De todos os momentos importantes que viveu desde que decidiu entrar no fechado, complexo, restrito e movediço circuito da política nacional, habitado pelas raríssimas personalidades dispostas a encarar a disputa pela Presidência da República, nenhum foi melhor e mais significativo para o governador Flávio Dino (PCdoB) do que a semana que passou. Foi um período em que ele expôs enfaticamente suas posições e opiniões numa entrevista ao canal virtual do jornal candango Correio Braziliense, debateu o Pacto Federativo com o experiente ex-governador capixaba Paulo Hartung (PSB) no Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), rebateu declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), viu seu nome aparecer como terceiro colocado num dos cenários de uma pesquisa nacional sobre sucessão presidencial, e fechou a semana com a publicação, pela revista Veja, de ampla e consistente reportagem sobre seu Governo e sua atuação política. Desdobramentos de uma longa série de entrevistas, debates e posicionamentos políticos fortes – como a defesa do ex-presidente Lula da Silva (PT) e a proposta de formação de uma ampla frente reunindo centro e esquerda para enfrentar a direita conservadora, por exemplo -, os eventos da semana sinalizaram, pelo tom, que o governador do Maranhão desembarcou de vez, como protagonista, na cena política nacional.

Na reportagem de Veja – revista que defende ideias da direita liberal, mas que prima pela liberdade de expressão -, Flávio Dino é mostrado, sem rasgos de simpatia, como líder de um Governo bem-sucedido, que, apesar da crise que assolou o País, vem alcançando bons resultados nas áreas de saúde, educação e segurança pública, conseguindo fazer investimentos em infraestrutura e mantendo em dia o pagamento dos servidores públicos. A reportagem aponta também supostos problemas, mas no geral o identifica como um Governo inovador, correto e eficiente. Veja mostra que no campo político, além de dizimar o Grupo Sarney, Flávio Dino conseguiu a proeza de construir uma frente com 16 partidos, incluindo porta-vozes da direita liberal, como o DEM, por exemplo, indicando que esse projeto pode ser viável no plano nacional. Numa entrevista ao repórter Edoardo Ghirotto, admite que poderá disputar ser a Presidente da República, desde que candidato de uma frente ampla. Na sua visão, essa é a única maneira de destronar a direita conservadora do poder no País.

Independentemente do que vier a acontecer de agora por diante, e dos obstáculos que certamente surgirão na sua caminhada, Flávio Dino já é parte ativa e reconhecida do seleto grupo de presidenciáveis. Isso implica dizer que nenhum projeto de poder da Oposição, do PSDB ao PSOL, incluindo o PT, ganhará forma sem passar pelo Palácio dos Leões. No domínio pleno do espaço que ocupou, e que tende a ampliar, Flávio Dino tornou-se uma voz autorizada na banda oposicionista, e com a vantagem de alimentar um discurso crítico forte e fundamentado aos atuais mandarins da República sem o ranço da agressividade odienta. Fala com a autoridade de ex-juiz federal, com a didática de professor universitário, com a experiência de deputado federal apontado como excelente legislador, e com o cacife de líder de um Governo estadual que está dando certo. E aborda com igual proficiência os temas mais distintos, no que se revela um estudioso obstinado. Ninguém duvida de que num debate direto com o governador do Maranhão, o atual presidente da República será triturado.

Flávio Dino será candidato a presidente? Ele próprio responde: “Uma candidatura à Presidência só será colocada se houver um conjunto de forças me apoiando. Você não disputa uma eleição majoritária sozinho. Eu ganhei a eleição de governador duas vezes porque tinha um movimento coletivo de partidos que me sustentou. Se não houver esse conjunto de forças, então é claro que serei candidato ao Senado pelo Maranhão”. Ou seja, para ele, candidatura presidencial não pode ser fruto apenas da vontade do candidato, um ímpeto de vale-tudo, que tem de ser consolidado de qualquer maneira. Trata-se de um movimento maior, plural, em torno de um projeto consistente para mudar o País. Se as condições básicas – a começar pela frente partidária – forem construídas, tudo bem, ele pode entrar o jogo; se não, usará seu prestígio político para ser senador pelo Maranhão.

Repórter Tempo