Foi tipo um decreto. Quando o primeiro vizinho ligou o som nas alturas e colocou a churrasqueira do lado de fora, Thierry cantava alto: “O coronavírus nunca me assustou”. A idosa sentada na porta começou a dançar, mas achou que ainda era muito cedo. O governador já havia dito que não era tutor.

O segundo vizinho perguntou ao primeiro se tinha cerveja, e eis que ele respondeu que cerveja não era problema. Da economia sorria, quando lembrou que o seu auxilio emergencial já estava aprovado. Aos poucos o samba ia começando, mesas e cadeira aumentando e a multidão se aglomerando. E eu, daqui de casa, olhando e pensando: será que sou eu o único que tá vacilando?

Logo vieram as crianças brincando, a idosa sorrindo e seu Zé já tava brindando. Ele nem mora na minha rua, mas como alguém “decretou” que a pandemia havia acabado, estavam todos comemorando. Até que alguém tossiu e uma criança espirrou. Na mesma hora o dono da casa entrou, as coisas foram sendo guardadas e, hoje, estão todos rezando pedindo ao Senhor que essa “gripezinha” não lhe causem mais dor.